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Feliz dia internacional da igualdade feminina!

 

                                                                                                                                                                                                                  FERNANDO BIZERRA JR / EFE 


Por Monique Torga

Dia 26 de agosto, dia internacional da igualdade feminina. Mas será mesmo que existe essa tal igualdade?

Segundo os dados do IBGE de 2019, as mulheres são, em média, 33% mais capacitadas que os homens, mas no geral, recebem 25% menos do que eles para exercer a mesma função. Às mulheres ainda é atribuída a responsabilização da criação e educação dos filhos e os afazeres domésticos, o que gera uma sobrecarga profissional e pessoal, na dupla e, às vezes, tripla jornada.

Um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicou que houve um aumento de 22% nos registros de casos de feminicídio no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus nos primeiros meses de 2020.

Os movimentos feministas há mais de 100 anos vem lutando pelos direitos das mulheres, trazendo questões importantes mas que precisam ser melhoradas até os dias de hoje, entre elas o acesso a métodos contraceptivos, saúde preventiva, igualdade entre homens e mulheres, proteção à mulher contra a violência doméstica, equiparação salarial, apoio em casos de assédio, entre tantos outros temas pertinentes à condição da mulher.

 

Igualdade entre homens e mulheres no futebol

 

No cenário esportivo não é diferente, a luta é ainda mais árdua por espaço e oportunidades. Um esporte como o futebol, feito por homens e para homens não reserva espaço para as mulheres em suas diferentes áreas. O futebol feminino no país é recente, pois através do Decreto lei nº 3199 publicado em 1941, foi proibida a prática de esportes que não fossem adequados à natureza feminina. Em 1965, a deliberação número 7 estabelecia regras para a participação das mulheres no esporte, proibindo a prática de várias modalidades. Só em meados da década de 1980 o CND concedeu o direito à prática de diversas modalidades esportivas pelas mulheres, incluindo o futebol. Vale lembrar que em 80 o Brasil já era tri-campeão de futebol no masculino, que coisa não?

As entidades esportivas lançaram nos últimos anos agendas de incentivo à equidade de gênero no esporte feminino, nas olimpíadas de 2016, por exemplo, a porcentagem de atletas mulheres competindo chegando a quase 50%, mas se compararmos com o incentivo às modalidade masculinas, é notória a discrepância quanto a sua divulgação e suporte técnico, número de competições, visibilidade na mídia, salários e principalmente, oportunidades.

No ano de 2017, um levantamento realizado pela pesquisa “Trajetória de mulheres na gestão do futebol no Brasil” encontrou apenas 5 mulheres em cargos de diretoria e gestão em 60 clubes profissionais brasileiros, o que representa um percentual de 1,66%, um número considerado meramente simbólico.

 

As mulheres no futebol pelo mundo

 

Engana-se quem pensa que a falta de equidade e oportunidades para as mulheres no futebol é um fenômeno que acontece só no Brasil. Dentre as agendas de entidades esportivas a FIFA – Federação Internacional de Futebol em 2016 criou um programa de desenvolvimento de lideranças femininas no futebol e também exigiu a obrigatoriedade de, pelo menos, uma mulher representante nos conselhos e nas confederações continentais ( AFC, CAF, Conmebol, Concacaf, OFC e UEFA). A composição final do conselho da FIFA tem, no total, 37 membros eleitos pelos membros das associações com mandato de 4 anos. Dentre os 37 membros, 7 são mulheres. Nas entidades, apenas a UEFA e AFC tem uma mulher em sua diretoria além da eleita para representar o conselho da FIFA.

Em entrevista para o jornal The Guardian a ex-vice-presidente da Confederação Asiática de Futebol,  a australiana Moya Dodd disse acreditar que a falta de mulheres na governança se deve ao fato de que existe um número maior de ex-jogadores homens, enquanto mulheres por muito tempo não foram permitidas a jogar futebol em muitas partes do mundo por muitas décadas. Para ela, é ótimo que as mulheres estão se graduando e emergindo dos campos para os conselhos, mas que ainda é um trabalho em progresso.

Segundo uma reportagem da revista AtTheMatch, em 2019 as federações tinham somente 15% de representação feminina em seus conselhos. Federações que representam esportes paralímpicos, são pelo menos 10% mais diversas, com conselhos ocupados por mulheres. A liga Australiana de Futebol alcançou em 2012 a incrível marca de 40% de mulheres em seu conselho.

 

            Mulheres no comando: quais as soluções possíveis?

 

É injusto dizer que mulheres, profissionais altamente qualificadas só estão aptas a exercer funções e ocupar espaços que lhes são de direito porque existem quotas, leis ou diretrizes que sancionam e obrigam a sua participação. Mas numa sociedade que se desenvolveu à luz do patriarcalismo ainda tem muito a evoluir, as mulheres seguem buscando, lutando por posições de destaque e ganhando visibilidade. Em 2019, a Copa do Mundo de Futebol Feminino bateu recorde de público e telespectadores, bem como a final do Campeonato Paulista também bateu o recorde de público da modalidade no Brasil. E como não falar de 2020 (logo ali, na semana passada) o Bayern de Munique foi campeão da Champions League, um dos principais campeonatos europeus (e também da Bundesliga e da Copa Alemã) e, em campo, compondo a comissão técnica da equipe estava a Gerente Geral Kathleen Kruger, considerada uma figura de suma importância. Esta é a segunda conquista da tríplice coroa de Kathleen com o Bayern. Iniciativas como a da FIFA e da UEFA por meio de programas de desenvolvimento de carreiras e lideranças femininas, entidades como a Women in Football que reserva vagas no futebol exclusivamente para profissionais femininas e as próprias quotas criam oportunidades para que mulheres promovam e incentivem mais mulheres a fazer parte deste meio e, quem sabe assim, consigamos enfim, comemorar o dia internacional da igualdade feminina. 

 

 

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