Por Bruno Proton
É fato que o futebol além de uma grande paixão é um dos esportes mais praticados e vistos do mundo e, porque não dizer, o mais popular. Tamanha popularidade se deve ao fato de que para jogar é necessário apenas uma bola, de qualquer tamanho ou material. Muitas crianças que começam a jogar futebol nas ruas, quintais e espaços abertos das cidades tem o grande sonho de se tornarem um dia profissionais no esporte, o que para muitos estudiosos pode ser um grande começo. Sobre o “futebol de rua”, dois importantes ex-jogadores holandeses Rinus Michels e Johan Cruyff que idealizaram e mostraram ao mundo sua teoria do “futebol total”, tratam o futebol de rua como “o sistema educacional mais natural que pode ser encontrado.
Se analisarmos o futebol de rua, concluiremos que a sua força reside no fato de jogar diariamente de uma forma competitiva, com uma preferência de jogo em qualquer situação, fazendo-o normalmente em grupos pequenos”. Pelé, considerado o maior jogador de todos os tempos, disse uma vez que ele se destacava mais que os outros jogadores porque sua rua tinha mais buracos. Na rua, as próprias crianças são os atletas, os treinadores e os árbitros do jogo, não se vê na rua jogadores praticando gestos técnicos isolados ou em linhas, lá elas têm a liberdade de experimentar e serem criativas. A rua é o grande treinador. Segundo o professor João Batista Freire, em seu livro Educação de Corpo Inteiro “quem aprendia na rua continuava aprendendo melhor que os alunos das escolinhas. (…) na rua todo mundo ensina todo mundo; é criança ensinando criança, é mais velho ensinando o mais novo. A rua tem a pedagogia da liberdade, da criatividade, do desafio e até da crueldade.” Se buscarmos na história, todos os grandes atletas de futebol começaram a dar seus primeiros passes nas ruas e campos de terra: Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Maradona e Pelé tem em comum este primeiro professor. O avanço nos estudos de treinamentos físicos e técnicos e o desenvolvimento tecnológico, assim como os altos índices de violência e acometimentos sociais acabaram culminando na diminuição desses espaços livres. A rua acaba perdendo sua posição como grande professor/treinador e as crianças entram em contato com o esporte sistematizado cada vez mais cedo nas escolinhas de futebol e centros de treinamento, dando início ao processo de formação com alguém lhes dizendo o que fazer a todo momento. O contato lúdico na iniciação esportiva é de extrema importância, o brincar e aprender brincando faz com que os jogadores passem a gostar daquilo que fazem e não só o fazer por obrigação, além de desenvolver a criatividade, o pensar e as tomadas de decisões independentes. Os métodos de filas e gestos técnicos com objetivos específicos acabam por deixar os treinos condicionados e entediantes, cerceando a espontaneidade dos futuros atletas, o prazer e o caráter competitivo do jogo tão importante para o seu desenvolvimento e aprendizado. A grande questão que buscamos responder aqui é: deveriam os clubes e escolas de futebol se utilizarem dos jogos de rua em seu processo de formação, principalmente na iniciação? E de que forma isso poderia ser feito? Em resposta, a conclusão de Johan Cruyff sobre o assunto “Sem dúvida que uma das razões para a falta de qualidade técnica de muitos jogadores, é resultado do lugar onde esses jovens aprenderam a jogar futebol. No meu tempo, a academia mais popular para descobrir os segredos deste esporte era a rua”.

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